Luzes apagadas






No escurinho do cinema,as mãos dela apertam as dele,como se quisessem paralisar ali todo o tempo.
São muitos os anos que os unem.Mas sempre de forma discreta,contida,quase proibida.Afinal a
história deles é sigilosa.Marcos esconde seu caso com Alexandra há exatamente sete anos.E todo
esse ritual se repete todas as semanas quando vão assistir a um novo filme.Ele entra e senta na
quarta fileira da sala. Um pouco depois,entra ela e senta-se ao seu lado.Sempre obedecendo ao
critério pré-estabelecido,somente na hora que a luz se apaga.E dessa forma,com tantos e tantos
pactos o amor deles se concretiza,mesmo que às escondidas.Os últimos sete Natais Alexandra
passou em casa de parentes,sempre com o olhar distante,imaginando como estaria Marcos na-
queles dias especiais.Triste,sempre triste ele dizia,que nada tinha sentido sem ela.Ela era o seu
amor e sua família a sua obrigação.Seus filhos carentes e sua mulher oficial,aquela com quem
se casara há vinte anos,uma tadinha,ele a chama de tadinha.Todos eram completamente dependentes daquela figura masculina que supria as necessidades de todos religiosamente.
Ora cobria a família de préstimos,ora a amada amante de amor e prazer.Era uma valsa cujo
o ritmo ela aprendera a dançar.De todas as datas festivas o aniversário dele era o que ela mais
desejava dividir com ele.Mas a família sempre foi a eleita pra esse dia.Ela chorava copiosa-
mente nas noites dos dias que queria estar com ele.As amigas a aconselhavam a desistir,os pre-
tendentes que apareciam desistiam de esperar.Ela seria para sempre dele,mesmo que pela
metade.Na tela Sr e Sra.Schimith brigavam em frente ao divã do analista.E os dois de mãos
dadas,trocando olhares de cumplicidade e paixão.Na mente de Alexandra passava o filme da sua
vida.Seu casamento desfeito porque não havia amor.E ele por que nunca rompia aquele seu
casamento fracassado? Seus filhos não eram dela,sua roupa ela não podia cuidar,seu passado
formava um elo com a família.Ela estava fora da cena.Ela estava no escurinho da vida dele,
onde tudo era permitido.Até a hora que a luz acendesse.

Comentários

Wilton Chaves disse…
Bom dia!
Lia, um texto delicioso.Imagens bem escolhidas pela sua singular sensibilidade. Para mim, uma gratificante visita. Um ótimo domingo e um excelente inicio de semana. Beijos
Lia Noronha disse…
Obrigada Wilton pelo carinho dedicado.
Um bom Domingo pra vc e sua família.
Abraço carinhoso.
Lena disse…
Que texto, hein? Muito bom e triste. Porque só qdo a gente não se ama é que deixa que esse tipo de coisa ir adiante. Bjo!
Lia Noronha disse…
Lena: que bom que ter me visitado neste Domingo de inverno!
Esses textos melancólicos aquecem um pouco nossos corações!
Acredito muito que as luzes nem sempre
acendem,e que tem muita gente no escurinho do sentimento de alguém,mais por carência do que tudo!
Beijos carinhosos e bom início de semana!
Laura_Diz disse…
amanhã volto para ler com calma, tks, pelo comentário lá no blog, boa noite, bj laura.
Anônimo disse…
Triste vida essa, não? E como tem gente nessa situação. Bjos, uma semana maravilhosa e obrigada pela sua visita.
Lia Noronha disse…
Laura:vou aguardar a sua visita mais tranquila.Afinal,quero que vc saboreie
o texto suavemente...
Beijinhos e boa segunda pra voce!
Lia Noronha disse…
Mércia: as histórias retratam situações imaginárias que se refletem
através de situações reais.E o contrário acontece também.
Feliz segunda e beijos carinhosos.
Vivian Massignan disse…
Os momentos felizes são mais felizes quanto mais temos momentos tristes. Acho que por isso algumas pessoas optam por esse tipo de relação. Seria tão mágico assim se fossem casados? Talvez sim, talvez não.
Lindo texto, Lia, vc está ficando muito boa nisso! beijos
Lia Noronha disse…
Viviane:adorei a sua visita,como sempre atenta a cada detalhe e dando a devida importancia aos mesmos.Gesto bem característico de quem conhece bem o amor .
Beijo carinhoso.
Rodrigo disse…
Vim retribuir tua visita. Que história essa! Não sei se eu agüentaria tanto tempo tendo que fazer tudo às escondidas. Como a Lena disse, isso chega a ser falta de amor próprio: podemos gostar pra caramba de uma pessoa, mas não podemos deixar de pensar em nós mesmos. Amar alguém é bom, claro. Mas ficar se angustiando, sofrendo até não poder mais, não dá. Quem mendiga amor não ganha amor, ganha esmolas de amor. Beijos!
Lia Noronha disse…
Rodrigo: adorei a sua visita no meu cantinho.E desejo que resolva logo o seu impasse amoroso.
Beijos carinhosos.