No meio da noite.














O lugar onde ela trabalhava não lhe dava muita liberdade de escolha.Ela teria sempre
que aceitar se deitar com o primeiro homem que a escolhesse durante os drinks no bar-music.
Era uma casa noturna muito bem frequentada.Os seus clientes tinham nível social e cultural bem elevado e pagavam bem caro por isso.Com Alessandra mais oito lindas mulheres atendiam charmosa e carinhosamente a todos eles.A música era bem suave e a bebida bem forte.Aquecendo as idéias e amolecendo o coração.Assim funcionava aquele discreto estabelecimento na zona Sul do Rio de Janeiro.Há mais de dois anos ela havia chegado do interior procurando emprego de secretária por falar mais de dois idiomas.Diante das dificuldades conheceu Suzy que lhe apresentou ao empresário que logo lhe proporcionaria uma vida repleta de fantasias e falsos valores.As vezes se pegava chorando sozinha.Apesar do largo e espontâneo sorriso que ela sempre demonstrava.Seu sonho era bem maior.Seus sentimentos viviam reservados em cofres lacrados pela hipocrisia burguesa.E naquela noite de sexta-feira do último dia do mês de abril tudo mudaria em sua vida.Todos os costumeiros clientes já haviam chegado o som as conversas e todo o clima estava bem descontraídos.Quando chegou um carro com dois homens que entraram na casa pela primeira vez.Um moreno alto e bem jovem o segundo loiro de olhos bem azuis aparentando mais trinta anos.Ambos sentaram-se no bar e pediram bebidas importadas e conversavam descontraidamente.O moreno se aproximou de uma mulher da casa que adorava morenos e logo confidenciou a ele que ficou bem excitado com a ideía de lhe fazer companhia por toda a noite.O outro homem ficou sozinho apesar de várias mulheres flertarem com ele seu olhar estava fixo em Alessandra.Alessandra estava muito pensativa nesta noite.A chegada do mês de maio lhe trazia muitas emoções.Mas mesmo assim não conseguia deixar de perceber o azul maravilhoso dos olhos de Pierre.Que aproximou-se dela se apresentando como tal.Chamou-a pra dançar e ela rejeitou.Ofereceu-lhe uma taça de vinho e ela negou.Alessandra continuava
alheia à tudo .As amigas da casa já estavam preocupadas com ela.Pierre então resolveu pedir um pedaço de papel no bar e com sua caneta escreveu um pequeno bilhete para ela e enviou através do garçom.
Alessandra esboçou um sorriso de alegria ao ler o que ele escreveu e foi até ele.E explicou-lhe o que estava realmente acontecendo.E Pierre atentamente a escutou.Alessandra lhe contou que o mês de maio começaria a partir da meia-noite.E que desde que chegara ali nunca dormira com um homem naquele dia que ela respeitava como sendo o primeiro dia do mês das noivas.E que para ela seria como se quebrar uma promessa um pacto com Deus de que um dia se casaria e que toda essa vida desregrada faria parte do seu passado.Pierre se emocionou com a sua história.E ficou conversando com Alessandra contando-lhe também a sua vida.A perda dos seus pais suas responsabilidades de criar quatro irmãos mais novos e da fazenda que herdou e que lhe rendia uma boa condição financeira.Ela confidenciou-lhe segredos de criança suas histórias familiares e porque foi parar naquele lugar tão alegre e ao mesmo tempo tão tenebroso.
As horas se passaram o dia amanheceu os clientes já haviam ido embora.E Pierre convidou-a para um passeio a pé .Já que o carro o seu empregado já havia levado esperando que ele ligasse quando precisasse ir embora.E ela aceitou e os dois caminharam até o calçadão de Ipanema.
E na beira-mar caminharam de mãos dadas por um bom tempo.Abraçaram-se e despediram-se com um beijo bem demorado.Beijo que Alessandra nunca havia dado em sua vida .O despontou bem firme e Alessandra falou para ele que precisaria dormir.Afinal trabalharia novamente a partir das dezoito horas de sábado.Como naquela noite não faturara nada teria que compensar neste outro dia.E Pierre levou-a até o lugar e foi embora deixando o seu cartão para que ela ligasse quando precisasse de algo.Alessandra entrou e logo adormeceu e sonhou com o beijo encantado que beijou.Seria aquele um beijo de amor?Seus sonhos estavam tão coloridos que acordou pensando que a felicidade finalmente a havia encontrado.Mas logo a realidade lhe bateu à porta.A gerente da casa recomendou-lhe sobre a tarefa de trabalhar bastante para repôr a perda daquela noite.E ela calmamente ouvia a tudo e viajava para bem longe em pensamentos.
A noite caiu e ela teve esperança que ele fosse aparecer.Ela o amaria a noite toda.Seria dele decorpo e alma.Com isso não conseguiu sequer encarar nenhum homem.Rejeitou a todos que lhe queriam e assim resolveu ir para o seu quarto dormir.Não sem antes ouvir toda a ladainha que a gerente lhe ditou.Quando Alessandra estava quase adormecendo o garçom lhe chamou no quarto dizendo que havia chegado para ela uma encomenda entregue por aquele moreno que esteve lá ontem.E ela feliz da vida abriu a pequena caixa que continha um anel e um cartão perfumado junto a ele.Ela leu e não conteve as lágrimas de emoção.Era de Pierre o cartão e o presente.Ele escreveu com letras bem legíveis:__Alessandra o mês de maio chegou e eu quero que você seja a minha noiva e que compartilhemos juntos todos os anos das nossas vidas!!!

Comentários

Jôka P. disse…
Lia, então está se revelando uma contista talentosa !
Gostei tanto do seu conto, quanto da ilustração do Cabaret.
Sabe que essa personagem da "pute au bon cöeur" - a puta de bom coração, é um dos arquétipos mais recorrentes da literatura francesa :
Uma mulher marcada pela vida, mas com reações inimagináveis de ingenuidade e altruismo.
É um personagem sempre muito comovente, e no cinema italiano foi muitíssimo bem interpretada pela diva Giullietta Massina em "Noites de Cabíria", um dos melhores filmes de Fellini.
Parabéns, Lia.
E obrigado por suas visitas sempre tão encantadoras à Av. Copacabana.
Beijos cariocas,
do seu amigo
JÔKA P.
Laura_Diz disse…
Que romantismo! bj laura
Laura_Diz disse…
"Noites de Cabíria", um dos melhores filmes de Fellini" concordo, é comovente, adorei, adoro Fellini e Giullieta Massina.
bj
Fred disse…
A felicidade também existe.
Gostei muito.
Abraços
Fred
Anônimo disse…
Bom dia Lia.....

Contos de fadas....existem?
Bjs....
Henrique Luna disse…
Cheiro de romantismo no ar. Fiquei com pena da "pute au bon cöeur", como diz Jôka. Pensei que ela seria uma Geni, mas ao final deu tudo certo. Gostei muito Lia. Me chamou atenção a maneira delicada como vc contou, os detalhes que vc deixou de pôr no texto - desnecessários, eu diria -. Conheço casos de conhecidos que foram à procura do serviço e tendo encontrado a "moça" não conseguiram se deitar com ela. Se sensibilizaram com as histórias e acabaram fazendo da cama um divã.

Beijão pra vc.
Lena disse…
Lia, minha amiga, passei para te desejar um ótimo dia e dizer que correu tudo bem na cirurgia do meu pai. Bjo!
Wilton Chaves disse…
Olá!
Lia querida, gostei muito deste seu texto. Você retrata e extrai uma realidade desta populoso bairro da zona sul.Você tem demonstrado ser uma talentosa escritora. Beijos
Fred disse…
Obrigado pelo comentário Lia.
Lindas palavras como sempre.
É por eles que eu não calarei. Jamais.
É por eles que eu gritarei a todos os ventos.
Sempre que puder.
Abraços
Fred
Isis B. disse…
Lia, que lindo! :'-)
Puxa, eu achei que ia ter um final triste, mas teve final feliz! Era tudo o que eu precisava!
Sim, vc acredita em amor!
Beijocas
Clementine K.