A favela e a cidade grande



" Não se deve julgar um homem pelas suas qualidades,
mas sim pelo uso que faz delas."
( La Rochefoucauld )



Me comporto bem pelas ruas
mas sou da favela.
Vou de terno e gravata no trânsito da vida
tentando esconder o meu sangue de negro
minha origem humilde.
Descarto as conversas prolongadas
por quase sempre revelarem
meu sotaque vulgar.
Já corri da polícia sem ter motivo algum
apenas por ser pobre e sem prestígio.
Agora num carro importado pouco me importo
com a fumaça da poluição
porque dentro dele o ar condicionado camufla
o odor e as fuligens da cidade grande
e mesmo não estando dentro do morro
ele mora inteiramente dentro de mim.

Comentários

Saramar disse…
Lia, querida, boa noite.

O poema é um romance inteiro, por todas essas histórias em cada frase, por essas vidas em cada verso. O final é perfeito, pungente!
Angela Ursa disse…
Lia, o terno e a gravata são apenas um envoltório. O que importa é quem está dentro dele mesmo. Beijos e carinho da Ursa :))
Anônimo disse…
Lia querida,
hoje já não se vê quem pela roupa que veste, todos iguais circulando pelos mesmos caminhos...
Lindo poema seu.
Lindo dia,
beijosssssssssss
Luma Rosa disse…
Como o velho ditado: "Por fora bela viola, por dentro pão bolorento" Bom fim de semana! Beijus
Palpiteira disse…
Texto bacana, muito mesmo. Sabe, fico pensando no porquê de algumas pessoas terem de sofrer tanto na vida. A vida é uma loucura, né? Nada parece ter explicação.
Sim, Lia, fui eu que criei aquele testículo, hehehe.
Beijão e bom fds.
spersivo disse…
Lia,
Grato pelas palavras. Só sabia que és carioca, mas de onde tirastes esta favelada? E é claro que Portela, Madureira, Nitéroi ou a Baixada não saí de dentro de ninguém e mesmo sem carro faz bem tanto que sinto uma saudade danada! Garota, um bom fim de semana!Favelada, ou não, a roupa não importa muito mesmo. Importa é gostar e, espiritualmente, I love you. S.
Anônimo disse…
Fachadas, fachadas. Só nos olham as fachadas.

Bjos.